O dilema da ameaça
Como desenvolver uma cultura de segurança sólida em uma organização sem informações concretas sobre as ameaças?
A autoridade se fundamenta antes de tudo na razão. Se você ordena ao seu povo que
se jogue ao mar, ele fará uma revolução. Eu tenho o direito de exigir obediência
porque minhas ordens são razoáveis.
Como mencionamos anteriormente, a educação sobre a ameaça é essencial para
promover uma cultura de segurança sólida. Porém, muitas vezes, não se tem
evidências suficientes para justificar uma ameaça crível ou, quando existe, a
informação é de natureza confidencial. Essa falta de informações é um problema
real dentro de uma organização que pretende desenvolver uma cultura de segurança
sólida sem contar com fatos e números que convençam sua equipe de que a ameaça
é, de fato, real. Esse fenômeno é muito comum e um dos obstáculos mais
importantes para melhorar a cultura de segurança. Quando não acreditamos que a
ameaça é real, consideramos que o esforço não vale a pena. É nesse ponto que a
regulamentação, os incentivos e as medidas punitivas se tornam necessários para
garantir o cumprimento enquanto se constrói a cultura de segurança.
Então, como desenvolver uma cultura de segurança sólida dentro de sua
organização sem informações claras sobre a ameaça? Algumas pessoas tentam
fazê-lo mentindo para sua equipe; outras tentam exagerar situações ou
simplesmente citam tendências globais, artigos de notícias, práticas de
excelência, eventos levemente relacionados ou casos similares que afetaram o
mesmo setor ou a mesma indústria em outras localizações geográficas. Esses
métodos variam muito dependendo da organização, mas é raro encontrar diretores
que abordem o problema de maneira simples e direta.
Uma vez, ouvi um diretor de uma instalação de pesquisa que opera material
radioativo dizer o seguinte a seus cem empregados após inaugurar um novo sistema
de segurança em seus estabelecimentos:
"Não tenho conhecimento de nenhuma ameaça contra nossas instalações neste
momento. Vocês sabem que nossa cidade e nosso bairro são seguros. Nada aconteceu
aqui antes, mas, embora acreditemos que a ameaça seja baixa, quero que iniciemos
uma campanha de prevenção. Encorajo vocês a seguirem nossos novos procedimentos
de segurança e a cuidarem de nossos novos equipamentos. Se operarmos nossa
segurança adequadamente, no dia em que alguém quiser atacar ou roubar um local
como o nosso, escolherão o que tiver a pior segurança, e não seremos nós. Não
podemos permitir que um evento como esse, por mais remoto que pareça, coloque em
risco o sustento de nossas famílias e a segurança de nossos vizinhos."
Foi um grande discurso. O diretor da instalação tinha confiança suficiente em
sua equipe para compartilhar, com honestidade, seu raciocínio. Em vez de educar
sobre a ameaça (sobre a qual ele não tinha maiores informações), decidiu fazê-lo
com base em motivação e interesse. O discurso foi suficientemente poderoso para
convencer seus empregados a voluntariamente priorizarem as tarefas e
procedimentos relacionados à segurança (mesmo na ausência de regulamentação ou
de uma ameaça fundamentada). Hoje em dia, essa instalação ostenta uma das
métricas de desempenho mais altas de qualquer sistema de segurança que medimos
no mundo.
Um alto nível de cultura de segurança é alcançável, e a educação é fundamental
para isso. Mudanças de comportamento só ocorrem quando os membros de uma equipe
entendem por que a transformação é necessária e como podem participar dessa
transformação. Quando não se conta com informações sobre a ameaça, inspire e
regule enquanto educa sua equipe. Quando a organização se foca em uma educação
eficaz, conseguirá desenvolver uma cultura de segurança cada vez mais robusta.